O Maior Pecado da Igreja

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009


A desunião do Corpo de Cristo é o escândalo dos séculos

Creio que se trata do mais hediondo e destrutivo dos pecados da Igreja. Visto que a desunião do corpo é bem mais freqüente do que os demais pecados e, à semelhança destes, verdadeiramente ata as mãos do Espírito Santo, ela faz com que mais almas se percam do que outras ofensas flagrantes, como mentira, imoralidade, alcoolismo etc. O Espírito Santo não pode tratar eficientemente da convicção e conversão dos pecadores quando os “santos” estão divididos.

A falha em reconhecermos, compreendermos, apreciarmos e preservarmos a unidade do Corpo de Cristo na Terra é equivalente a reabrirmos as suas chagas na cruz. De acordo com o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 11.27-30, não “discernir o corpo” traz conseqüências muito sérias para a igreja. Os ferimentos ao Corpo de Cristo trazem ao Senhor dores semelhantes às das chagas de seu corpo físico na cruz. O pecado da desunião é um pecado contra o corpo e o sangue de Jesus, contra a oração que Jesus fez em João 17.

É também o maior obstáculo à salvação do mundo. Sempre que missionários, evangelistas ou obreiros – todos vindicando a representação de Jesus Cristo e do seu evangelho – manifestam antagonismo e franca hostilidade uns para com os outros, somente Satanás é o vencedor. Quando pessoas interessadas no Evangelho ou novos convertidos descobrem que os discípulos professos de Jesus estão fragmentados, são invejosos e até beligerantes em espírito, eles ficam totalmente frustrados e decepcionados. Para eles é incompreensível, inexplicável e até vergonhoso ver o Corpo de Cristo dilacerado pelo proselitismo, pela avareza e pelo ciúme.

A Ordem Clara de Não Julgar

Tem-se denominado a crítica injusta e desamorosa de uns para com os outros de “o pecado peculiar dos santos”. De fato, é o vício mais evidente do “povo santo”. Muitos que condenam enfaticamente as doutrinas de uma religião pecaminosa são culpados de violar o mandamento inequívoco de Cristo: “Não julgueis” (Mt 7.1). Essa violação é pecado.

Paulo, em Romanos 14, ressalta ainda mais o mandamento de Cristo. No contexto de aconselhamento à igreja sobre como tratar de uma questão divisória, ele diz: “Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; [...] Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio Senhor está em pé ou cai; [...] Tu, porém, por que julgas a teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? [...] Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão” (Rm 14.1-4, 10,13).

Por alguma razão, os “santos” que sinceramente abominam o pecado da mentira, do roubo e do adultério, e que gritam mais alto que todos reivindicando viver sem pecado, com freqüência são culpados de grosseira desobediência ao mandamento positivo de Cristo e ao conselho inspirado de Paulo. De acordo com Jesus e Paulo, o julgamento mútuo em assuntos não essenciais é pecado. Os grupos que mais insistem na necessidade de se viver acima do pecado com freqüência são os piores transgressores nessa área. As congregações e denominações que pregam os mais elevados padrões de santidade parecem ser as mais fragmentadas.

O hábito de julgar os outros resulta na rejeição de um irmão que nasceu de novo por causa da sua opinião quanto a assuntos não essenciais à salvação. O aumento do hábito de julgar, portanto, é sinal da diminuição da graça. Significa que não acreditamos que Deus sabe corrigir os seus filhos, ou que seja capaz de fazê-lo. Em outras palavras, é colocar-se no lugar de Deus.

Admito, com tristeza, que já fui culpado desse pecado. Para remediar uma situação, o crítico típico tem mais confiança em sua crítica do que na oração. Grande parte da crítica que leva à desarmonia e às divisões não procede primariamente de convicções superiores, mas de um ego não santificado e da carne não crucificada.

Um Laboratório Para Desenvolver o Amor Ágape

A igreja local é considerada uma família (Ef 2.19). É aqui que podemos encontrar uma oficina espiritual dedicada ao desenvolvimento do amor ágape. São as pressões e exigências de uma comunhão espiritual entre membros diversificados que oferecem a situação ideal para testar e amadurecer a importantíssima qualificação para a Noiva de Jesus participar do governo do Universo, que é o amor ágape.

Visto que todas as pessoas que nasceram de novo são membros do Corpo de Cristo (1 Co 12.12,13), e que esse Corpo inclui pessoas das mais variadas procedências, opiniões e posicionamentos, podemos afirmar que Deus mantém comunhão com pessoas em lados totalmente opostos nas diversas disputas doutrinárias. Sendo isso verdade, será que temos direito de recusar comunhão a outros membros do Corpo? Se o fizermos, não estaríamos em perigo de diminuir ou romper nossa comunhão com Deus, que é Pai nosso e deles também?

Quantidade alguma de graça jamais fará com que todas as pessoas nascidas de novo concordem quanto a que sistema doutrinário constitui absoluta verdade conceitual. Se a oração de Cristo pela unidade do Corpo deve concretizar-se deste lado da eternidade, há de ser na base de um Pai comum, isto é, na base do amor ágape. Significa que o amor pela família excederá a devoção que a pessoa nutre pelas próprias opiniões acerca de tópicos não essenciais à salvação.

Não se trata de abrir mão de convicções pessoais a fim de amar um irmão, membro do mesmo círculo familiar, que tem o mesmo Pai. A pedra fundamental e o alicerce mais tangível e vital do amor – e, portanto, da unidade e da comunhão – é reconhecer nos outros um mesmo ancestral ou um relacionamento familiar, e não uma opinião comum. Se isso for verdade, a comunhão nessa base é mais importante para Deus do que a teologia absolutamente correta.

O Que Mais Interessa A Deus

Deus está mais interessado no amor entre os membros de sua família do que na inerrância das opiniões desses irmãos. Em qualquer controvérsia, quer na prática, quer na doutrina, o elemento mais importante não é que se tomem as decisões mais sábias, mas que se mantenha o espírito correto.

Uma pessoa pode estar certa na opinião, porém errada no espírito. Outra pode estar certa no espírito e errada na opinião. O que acontece quando alguém está errado no espírito? Não fica o Espírito Santo dentro dessa pessoa entristecido e não testemunha ele acerca dessa ofensa mediante um sentimento íntimo de desaprovação? Seria possível negar isso?

Quando afirmamos que para Deus há algo mais importante do que pontos de vista corretos, estamos dizendo que o espírito certo, a expressão do seu amor, é o que mais conta para ele. Deus pode abençoar – e realmente abençoa – os que assumem pontos de vista contraditórios, mas jamais abençoa a falta de amor. Estar certo na doutrina e errado no espírito é estar quase totalmente errado.

Ao passo que a Palavra de Deus é inerrante, a opinião de alguém sobre um ponto controvertido não o é. Há possibilidade de erro em todas as declarações doutrinárias extra-escriturísticas, ou em todos os enunciados de interpretação bíblica. Portanto, nenhum credo eclesiástico é infalível.

Por outro lado, o amor, à semelhança de outras graças do Espírito, só cresce sob provações. Sempre que pessoas nascidas de novo se encontrarem em lados opostos de uma controvérsia sobre um ponto não essencial à salvação, o amor ágape deve evitar a ruptura da comunhão ou uma divisão direta. Tais ocasiões oferecem oportunidade para o crescimento em amor e, portanto, em esferas eternas.

As divisões por causa de doutrinas não relacionadas à experiência do novo nascimento, como costumes, formas de governo, personalidades e outras são um desperdício de tristezas e pesar ao Espírito Santo. Não se deve permitir que nada, a não ser uma heresia ou um pecado aberto, algo que afete o relacionamento com o Pai, traga cisma ao Corpo de Cristo.

A maior parte das desavenças nas congregações locais é produzida não principalmente por diferenças quanto a pontos essenciais, mas por ambições humanas não santificadas, inveja e choques de personalidades. A verdadeira raiz de muitas dessas situações é uma carência em crentes individuais que revelam lamentável imaturidade no amor. É por isso que a igreja local é um dos melhores laboratórios onde os crentes individuais podem descobrir seu real vazio espiritual e começar a crescer no amor ágape.

Quando há verdadeiro arrependimento, a humilde confissão dos pecados de inveja, ciúme e ressentimento e o pedido de perdão mútuo, o resultado será crescimento real no amor que cobre tudo. Isso libera o Espírito Santo para curar feridas e atear o fogo do reavivamento.

Cosmologia de Paul Billheimer

O texto do artigo ao lado foi extraído do livro “O Amor Cobre Tudo”, de Paul Billheimer, Ed. Vida, com edição atualmente esgotada em português. A cosmologia apresentada nesse livro representa uma continuação da que o autor desenvolveu em livros anteriores: “Seu Destino é o Trono” e “Não Desperdice Suas Lágrimas”, ambos igualmente esgotados em português.

A síntese da cosmologia de Billheimer é a seguinte: O universo, inclusive o nosso planeta, foi criado para prover uma habitação adequada para a raça humana. Os homens, por sua vez, foram criados à imagem e semelhança de Deus a fim de providenciar uma companhia eterna para o seu Filho.

Após a queda e a promessa da redenção, a raça messiânica foi criada e sustentada a fim de fazer vir o Messias. Este veio com uma intenção – dar à luz a Igreja e, assim, obter a sua Noiva. Assim a Igreja se torna o objetivo final do Universo e, no que concerne à revelação, a única razão da criação.

Em “Seu Destino é o Trono”, Billheimer mostra que Deus projetou o sistema de oração a fim de equipar e qualificar a Noiva, com técnicas, meios e potenciais para participar do governo de Deus. Em “Não Desperdice Suas Lágrimas”, ele afirma que Deus projetou o sofrimento, conseqüência da queda, com a finalidade de produzir caráter e disposição, o espírito compassivo necessário à liderança num governo espiritual em que a lei do amor é suprema.

Quando a pessoa nasce de novo, ela imediatamente começa seu treinamento no governo espiritual. É que o amor ágape, o amor incondicional que caracteriza o próprio Deus, constitui qualificação essencial para o exercício de autoridade na ordem social celeste, em direção à qual move-se o universo (também chamado de Reino de Deus); portanto, esse aprendizado serve ao desenvolvimento desse amor. Se esse treinamento e amadurecimento no amor não fossem necessários, Deus provavelmente levaria a pessoa para o céu tão logo ela fosse salva.

Visto que a tribulação é necessária para a descentralização do ego e para o desenvolvimento de profundas dimensões do amor ágape, este só pode desenvolver-se na escola do sofrimento. Ele cresce e se desenvolve somente através de exercício e prova.

É por isso que, logo após a regeneração e o enchimento do Espírito Santo, Deus coloca cada membro da sua Noiva no lugar em que desenvolverá as mais profundas dimensões do amor ágape, que é o objetivo supremo de Deus para nós. De acordo com o dicionário de palavras bíblicas no grego de W. E. Vine, amor ágape é o amor que ama em virtude de sua própria natureza, não por causa da excelência ou valor do objeto amado.

Nesse contexto, os relacionamentos dentro da igreja nos oferecem tremendas oportunidades para crescermos em amor. Os conflitos encontrados nesses relacionamentos são cruciais para o desenvolvimento do amor ágape e para se alcançar a unidade do Corpo de Cristo.

Paul Billheimer

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