sábado, 18 de julho de 2009
“Para que eu possa conhecê-Lo, e o poder da Sua ressurreição, e a comunicação dos Seus sofrimentos, conformando-me a Ele na Sua morte”. Filipenses 3.10
Há muitas palavras nos escritos de Paulo que revelam o quão comprometido este homem estava com o Senhor Jesus. Todo o contexto é um derramamento consumado do seu coração diante daquele que o tinha feito “prisioneiro”, e ele resume tudo em uma pequena sentença: “Para que eu possa conhecê-lo”.
O que impressiona a respeito dessa expressa ambição é o tempo na qual ela é feita. Aqui está um homem que tem tido uma revelação e um conhecimento de Jesus Cristo maior do que qualquer outro teve até aquele tempo. Tal conhecimento teve início a partir do momento em que ele disse: “quando aprouve a Deus revelar o Seu Filho em mim”. Este início devastou o apóstolo, e o levou para o deserto, a fim de que compreendesse todas as implicações. Mais tarde ele “foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais não eram lícitas ao homem referir”. Entre, e ao redor dessas duas experiências, há uma evidência de um conhecimento de Cristo cada vez mais crescente. Aqui, após tudo aquilo, já próximo do final da vida, ele está desejando fervorosamente: “Para que eu possa conhecê-lo”.
O mínimo que podemos dizer sobre isto é que o Cristo que se estava em vista era de fato um Cristo muito maior, e que superava qualquer capacidade de compreensão humana. Isto é um tremendo contraste ao limitado Cristo que reconhecemos e aprendemos! O quanto mais há de Cristo além do que nós já temos! Vamos analisar melhor o versículo. Ele está dividido por suas principais palavras, e pode ser declarado através de quatro frases:
1) O sentimento que predomina: “Para que eu possa conhecê-lo”.
2) O poder efetivo: “O poder da Sua ressurreição”
3) A base essencial: “A comunicação de Seus sofrimentos”
4) O princípio progressivo: “Conformado à Sua morte”
1. O SENTIMENTO QUE PREDOMINA
“Para que eu possa conhecê-lo”
Aqui, um pequeno estudo sobre a etimologia das palavras é ao mesmo tempo útil quanto necessário. Na língua original do Novo Testamento, há duas palavras para “saber” ou “conhecer”. Elas aparecem em inúmeras ocasiões e conexões em todo Novo Testamento.
Uma dessas palavras significa “conhecimento através da informação”; ser avisado através da leitura ou através de alguém. É mais um conhecimento que vem pela observação, pelo estudo, pela pesquisa, ou conversa. É um conhecimento sobre coisas, pessoas, etc. A outra palavra tem o sentido de uma experiência pessoal, conhecimento íntimo; um conhecimento interior. Algumas vezes há um prefixo que dá o significado de “conhecimento total” (epi). E é esse o sentido que Paulo está usando aqui: “Para que eu possa ter ou ganhar mais do conhecimento Dele”; é uma experiência pessoal, através de uma relação pessoal, de vida, de um relacionamento em primeira mão com Ele. Isto remove qualquer coisa do terreno da mera teoria, do intelecto, do ouvir dizer. É o resultado e o efeito da ação do Espírito Santo que está dentro de nós. Este é o porque de Paulo ter associado este conhecimento com o do “poder da Sua ressurreição, e a comunicação dos Seus sofrimentos”. É um conhecimento poderoso, que nasce a partir de uma profunda experiência. E este é o único e verdadeiro conhecimento de Cristo! Que é plantado e profundamente forjado na vida interior.
2. O PODER EFICAZ
“O poder da Sua ressurreição”
Embora haja um aspecto futuro na afirmação como um todo, isto é, da consumação em glória, devemos compreender que, em cada uma dessas frases, Paulo está pensando sobre a vida presente. Até mesmo no versículo seguinte, onde ele fala em alcançar esta “ressurreição dos mortos”, primariamente ele está se referindo a uma ressurreição moral e espiritual presente. Ele já tinha conhecido algo deste poder. Sua conversão foi um exemplo disso. Muitas e muitas vezes, aquilo que ele chamou de “morte diária” , ele já tinha experimentado. Talvez as suas maiores experiências foram na Ásia e Listra (IICor. 1.9; Atos 14.19,20) O poder da ressurreição e a vida são o conhecimento de Cristo. É assim que nós o conhecemos, e isto está disponível para cada cristão. Sua finalidade é o de produzir resistência, força para vencer, para cumprir o ministério, para manter o testemunho do Senhor neste mundo; para cada necessidade que seja exigida, em relação aos interesses de Cristo, e de Sua glória. O poder da ressurreição põe a vida sobre uma base sobrenatural. O poder de Sua ressurreição é o maior milagre da história.
3. A BASE FUNDAMENTAL
“A comunicação dos Seus sofrimentos”
Em conexão a isto, há algumas coisas que devemos distinguir. Houve sofrimentos de Cristo que nós não experimentamos, e também não somos chamados para experimentar, muito embora, algumas vezes, pareça haver uma linha muito fina entre eles. Nós não experimentamos os sofrimentos expiatórios de Cristo. São sofrimentos que foram só Dele. A obra de redenção do homem foi somente Dele, por nós. Quando Ele, que era sem pecado, foi feito pecado por nós, Ele estava sozinho, até mesmo Deus o abandonou naquele momento eterno. Sobre este fato de Sua pessoa, depende toda a Sua verdade, e também repousa todo sistema do sacrifício perfeito; o Cordeiro imaculado. Mas, quando tudo isso é aceito e estabelecido, há sofrimentos de Cristo nos quais temos que experimentar junto com Ele. Nós também, por causa Dele, podemos ser desprezados e rejeitados pelos homens. Podemos ser desacreditados, banidos, perseguidos, ridicularizados, torturados, e até mesmo mortos. Paulo fala do resto das aflições de Cristo que ele estava procurando completar, “por causa do Seu corpo, que é a igreja”. Esta é uma outra área, que é diferente. Paulo olhou para isto como sendo uma honra e algo do qual devia se regozijar, porque era por causa daquele a quem ele amava tão profundamente. Mas ele também viu que este sofrimento “com” e “por causa” de Cristo colocava a base para se conhecer Cristo e o poder da Sua ressurreição. Este Apóstolo concordaria que apenas aqueles que conhecem esta “comunicação” (dos sofrimentos de Cristo) é que realmente conhecem o Senhor. Nós sabemos disso! É bem evidente que toda aquela utilidade no caminho espiritual procede da pressão, e “aqueles que mais têm sofrido possuem muito para dar”. Não há nada artificial a respeito do fruto de Cristo.
4. O PRINCÍPIO PROGRESSIVO
“Conformado à Sua morte”
É importante, nessa compreensão do Apóstolo, perceber que ele não estava pensando que conformar-se à morte de Cristo seria o fim de todas as coisas. Seu real significado era que ele deveria crescer no conhecimento de Cristo, conhecer o poder da Sua ressurreição e experimentar os Seus sofrimentos à medida em que fosse sendo conformado à Sua morte. Sua morte – a morte de Cristo – estava por detrás, era algo pertencente ao início, e a história espiritual do cristão é uma obra de se voltar ao real significado daquela morte. Aquela morte significou o fim do “velho homem”, uma crucificação dos desejos e da mente mundana; um fechar de porta para todo o sistema que não está centrado em Cristo, e que não é governado por Ele. Tudo isso tinha sido afirmado e apresentado nas cartas mais recentes de Paulo; mas era um sentido que tinha que ser progressivamente tornado real e verdadeiro na experiência espiritual. O significado da morte de Cristo – ensinou Paulo – tinha que ser a experiência mais profunda do cristão, e isto somente funcionaria – progressivamente – no poder da Sua ressurreição e pela comunicação de Seus sofrimentos. Para que, em sendo conformado à Sua morte, ele pudesse chegar ao pleno conhecimento Dele e daquele poder divino. É sempre assim. O sentimento que predomina abre o caminho para o poder efetivo, por uma base essencial, através do princípio progressivo de se conformar à Sua morte.
De “Uma Testemunha e um testemunho”, setembro-outubro, 1969
T. Austin-Sparks
Nenhum comentário:
Postar um comentário