segunda-feira, 31 de agosto de 2009
"Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer que algum de nós tenha falhado", Heb.4.1.
"Esforcemo-nos, pois, para entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência", Heb.4.11. E como é que podemos entrar nesse descanso? Há passos que temos de dar nesse sentido, todos eles muito simples, compreendidos dentro de um único acto de fé e rendição pessoal a Deus.
O primeiro passo é fazer a seguinte afirmação: "Acredito firmemente que a vida de fé oferece descanso". O povo de Israel, em sua libertação, passou por duas experiências básicas, explicadas em Deut 5: ele nos tirou, para que pudéssemos entrar. São os dois lados da obra de redenção operada por Deus. Tirou-nos do Egipto para que pudéssemos entrar em Canaã. Essa mesma realidade se aplica à vida do crente. Quando se deu nossa conversão, Deus nos tirou do Egipto; agora, o mesmo Deus todo-poderoso está desejoso de nos introduzir na vida de Canaã.
Sabemos como Deus tirou os israelitas do cativeiro. Mas eles impediram que o Senhor os conduzisse à terra prometida e por isso tiveram que vaguear pelo deserto durante quarenta anos – o que tipifica a vida de muitos crentes. Pela conversão, Deus os retira do cativeiro, mas eles próprios impedem que o Senhor lhes proporcione tudo que está preparado para o crente. Então, como entrar nesse descanso? Primeiramente é preciso conseguir fazer a seguinte afirmação: "Creio que existe realmente um descanso, ao qual Jesus, que é nosso Josué, pode conduzir aquele que crê". E quem quiser conhecer a diferença que existe entre esses dois modos de vida – o modo como tem vivido até agora e o que deseja ter - basta ver o contraste entre o deserto e Canaã.
No deserto há um vaguear constante, para diante e para trás, durante quarenta anos; em Canaã, o descanso perfeito, na terra dada por Deus. Vê-se a mesma diferença entre a pessoa que já entrou em Canaã e a que ainda não deu esse passo. A vida no deserto é cheia de altos e baixos, de muitos avanços e inúmeros retrocessos; de busca do mundo e de arrependimento e volta; de desvios por causa das tentações, e retornos, com novo desvio depois. Em Canaã não. Ali há uma vida de descanso porque o crente já aprendeu a confiar em Deus: "Deus me preserva em todos os momentos, com seu grande poder".
Mas existe ainda outra diferença. A vida no deserto é caracterizada pela pobreza, enquanto em Canaã há fartura. No deserto não havia nada para se comer, e muitas vezes faltava água. Mas Deus, em sua graça, supriu as necessidades do povo dando-lhe o maná e tirando água da rocha. Mas, infelizmente, eles não se contentaram com isso, e levaram uma vida de privações, murmurando o tempo todo. Em Canaã, porém, Deus lhes deu vinhas que não haviam plantado. Os cereais já estavam lá, à espera deles. Era uma terra que manava leite e mel, regada pelas chuvas do céu, cuidada pelo próprio Deus.
Faça esta afirmação hoje mesmo. Diga: "Eu creio que existe a possibilidade dessa mudança, que posso deixar esta vida de morte espiritual, de trevas, tristeza e lamúrias que tenho levado até agora, e entrar numa existência em que todas as minhas necessidades são supridas, em que a graça de Cristo me basta em todos os momentos". Faça essa afirmação hoje: "Creio que posso viver nessa terra".
A terceira diferença: no deserto não havia vitórias. Depois que o povo de Israel pecou, em Cades, tentaram lutar contra os inimigos e foram derrotados. Mas assim que entraram na terra, derrotaram a todos eles. Começando em Jericó, foram avançando de vitória em vitória. E da mesma forma nós podemos ter vitórias todos os dias já que Deus, Cristo e o Espírito Santo estão desejosos de dar-nos essa bênção. Isso não significa que não teremos mais tentações; não é assim. Mas teremos um poder que nos advirá de nossa união com Cristo, pelo qual podemos dizer: "Tudo posso naquele que me fortalece", Fil. 4.13. "Somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou", Rom 8.37.
Segundo passo. Depois de afirmar: "Creio que esse tipo de vida existe", vamos dizer também: "Mas ainda não a alcancei". Alguns talvez digam: "Já tentei viver assim". E outros dirão: "Nunca ouvi falar disso". E ainda outros talvez confessem: "Houve momentos em que acreditei ter chegado a essa existência; mas depois a perdi". Cada um tem que se colocar diante de Deus com toda sinceridade. Então, os que ainda não gozam dessa experiência devem começar a dizer: "Senhor, ainda não tenho essa bênção".
Por que é tão importante que se faça tal confissão? É que alguns gostariam de entrar nessa existência de descanso aos poucos, mansa e silenciosamente, mas não foi assim que Deus dispôs as coisas. Enquanto essas pessoas estavam no deserto, elas tinham uma vida de pecado que não apenas trazia tristeza a elas próprias, mas que também desonrava a Deus. E para que avancem mais na rota da salvação é necessário convicção de pecado, e a confissão dele.
Portanto, todo crente tem que estar disposto a reconhecer em si tal condição. Terá que confessar: "Errei, pois não vivi da maneira certa, e desonrei o nome de Deus. Agi como o povo de Israel. Com minha incredulidade e desobediência, provoquei a ira de Deus. Que o Senhor tenha misericórdia de mim". E cada um faça a Deus a seguinte confissão: "Senhor, ainda não desfruto dessa vida. Não tenho te glorificado, pois não entrei na terra do descanso".
Terceiro passo. Façamos o seguinte reconhecimento: "Graças a Deus, posso gozar dessa vida". Algumas pessoas pensam da seguinte maneira: "Eu creio que essa bênção existe, mas não é para mim". Outros ficam constantemente a dizer: "Eu tenho um temperamento muito instável. Minha vontade já é fraca por natureza; sou muito nervoso, irascível. Não conseguiria viver, sempre descansando em Deus, sem me preocupar". Não diga isso. Você só fala assim por uma razão: porque desconhece tudo que Deus pode fazer por você. Pare de olhar só para si mesmo e fixe os olhos em Deus. Aproprie-se dessa maravilhosa verdade: "Tirou-nos do Egipto para que pudéssemos entrar em Canaã".
O mesmo Deus que fez o povo atravessar o mar Vermelho, fê-lo atravessar o Jordão para entrar em Canaã. O mesmo Deus que operou a conversão em você pode proporcionar-lhe essa vida abençoada todos os dias. Exercite sua fé, mesmo que ela seja pequena, e antes mesmo de reivindicar para si essa bênção comece a afirmar: "Eu também posso entrar nesse descanso. Creio nisso. Deus não deserda nenhum de seus filhos. Tudo que dá a um, dá a todos.
Acredito que essa bendita vida de descanso está à minha disposição. Foi criada para que eu também me beneficiasse dela. Deus está pronto a concedê-la a mim, e a efectuar essa obra em meu ser. Glória ao seu nome!" Pense nessa pequenina palavra "mim", olhe bem para a face de Deus e diga firmemente: "Posso receber esse tesouro inestimável, sim; apesar de ser a pessoa mais fraca e mais indigna da terra".
O quarto passo consiste em fazer o seguinte reconhecimento: "Por esforço próprio não poderei obter a bênção. Deus é quem terá de conceder-me o descanso". É preciso afirmar com ousadia: "Essa bênção se destina a mim também". Mas logo em seguida terá que, humildemente, reconhecer: "Não posso obtê-la por mim mesmo; não posso pegá-la para mim". Então, como conseguir a bênção? Se Deus já o levou a uma consciência plena de que em si mesmo você não tem poder algum, glória a ele, pois agora pode chegar-se para você e indagar: "Quer confiar em seu Deus, e crer que ele operará isso em seu coração?" Reconheça isso de todo o coração, e diga: "Mesmo que lance mão de todas as minhas forças, nunca poderei arrancar de Deus esta bênção. Ele terá de concedê-la a mim".
Mas valorizemos essa nossa incapacidade. Foi Deus quem nos tirou do Egipto; será ele quem terá de introduzir-nos na terra. O fato de sermos incapazes de fazê-lo constitui grande bênção para nós. Ore pedindo que Deus, pelo Espírito Santo, lhe revele o quanto é incapaz, e essa revelação abrirá o caminho para que, pela fé, possa dizer: "Senhor, será preciso que tu mesmo operes isso em minha vida, senão nunca receberei a bênção". E Deus o fará.
Algumas pessoas estão sempre ouvindo mensagens sobre a fé, sobre crer, bem como apelos insistentes para que creiam, e não entendem por que não conseguem crer. Só existe uma resposta para isso: o ego. O ego se esforça, luta, tenta tudo, mas acaba sempre fracassando. Mas quando chegamos ao fim de nossa forças, e não podemos fazer mais nada a não ser clamar: "Senhor, socorre-me", então nossa libertação está próxima. Creia nisso. Foi Deus quem introduziu o povo na terra. Será ele quem nos introduzirá nessa bênção.
Temos que estar dispostos a renunciar tudo para obter esse descanso. A graça de Deus é gratuita; ela nos é concedida sem dinheiro e sem preço. Entretanto, por outro lado, Jesus afirmou também que quem quiser a pérola de grande preço tem que sacrificar tudo para obtê-la; tem que vender tudo que possui. Não basta ver a beleza, o encanto e a glória desta vida que nos é apresentada, nem quase provar o gozo e a alegria inerentes a ela. Temos que nos tornar proprietários, donos do campo. Tanto o homem que encontrou o campo onde havia um tesouro escondido, como o que achou a pérola de grande preço ficaram muito contentes, mas ainda não eram donos delas. Só se tornaram proprietários depois que abriram mão de tudo, e compraram um o terreno e o outro a pérola.
São muitas as coisas que temos de renunciar: o mundo, seus prazeres, seu aplauso, sua opinião a nosso respeito. Nosso relacionamento com ele terá de ser igual ao que Jesus manteve. O mundo rejeitou a Cristo e o expulsou de seu meio. E nós temos que assumir a mesma posição tomada pelo Senhor a quem pertencemos, e seguir o Cristo rejeitado pelo mundo. Temos que renunciar a todas as nossas qualidades e virtudes pessoais, e nos humilhar até o pó. E isso ainda não é tudo. Temos que renunciar também às nossas experiências religiosas de antes. Temos que vir a ser nada, para que só Deus receba toda a glória.
Quando você se converteu, Deus o tirou do Egipto; deu-lhe a própria vida divina. Mas com sua desobediência e incredulidade, você a maculou. Renuncie a tudo isso. Renuncie à sua própria sabedoria, às idéias que tem acerca da obra de Deus. Como é difícil para um pregador do evangelho renunciar à sua própria sabedoria, depositá-la inteiramente aos pés de Jesus, tornando-se um indouto, e dizer: "Senhor, na verdade não sei nada do que deveria saber. Tenho pregado o evangelho, mas como conheço mal a glória desta bendita terra, desta maravilhosa vida".
Por que será que o Espírito Santo não pode ensinar-nos com mais eficácia as coisas de Deus? Só existe uma razão: a sabedoria humana impede. A sabedoria do homem impede que a luz de Deus brilhe sobre ele. Renunciemos a tudo.
Alguns talvez tenham que renunciar a um pecado. Pode ser que um crente esteja com raiva de um irmão, ou uma irmã tenha brigado com a vizinha. Ou talvez pessoas amigas não estejam vivendo como deveriam. Ou é possível também que alguém esteja mantendo uma prática ou atitude duvidosa, sem querer renunciar a ela e às concupiscências próprias do deserto. Dê este passo e diga: "Estou disposto a renunciar a tudo para obter esta pérola de grande preço; vou renunciar ao meu negócio, ao controle do meu tempo, às coisas que dou atenção. Tudo isso ficará subordinado ao descanso de Deus, que ocupará o primeiro lugar em minha vida. Renuncio a tudo, em troca de uma comunhão perfeita com Deus".
Não podemos entrar nesse descanso, que é caracterizado por uma comunhão perfeita com Deus diariamente, sem dedicar tempo ao Senhor. Dedicamos tempo a tudo. E será que achamos que a religião é algo menor, e que podemos gozar de uma íntima comunhão com Deus sem dedicar tempo a ele? Não, não podemos, mas a pérola de grande preço vale tudo. Deus vale qualquer sacrifício. Cristo é merecedor de tudo. Resolva-se ainda hoje a tomar essa decisão: "Senhor, quero ter essa vida. Ajude-me, custe o que custar". Mas se tiver dificuldade em dizer isso, sentindo que seu coração está em luta, não se preocupe. Diga a Deus: "Senhor, pensei que estava disposto a tomar a decisão, mas agora vejo que ainda tenho certa relutância. Vem revelar o mal que ainda se encontra em meu coração". E você pode ter certeza de que, se assentar aos pés do Senhor e confiar nele, pela sua graça, receberá a libertação.
O quinto passo consiste em afirmar: "Entrego-me agora ao santo e eterno Deus, para que ele me guie ao perfeito descanso". Temos que aprender a encontrar-nos com Deus face a face. Os pecados que cometemos são contra Deus. Quando David pecou, reconheceu isso e disse: "Pequei contra ti, contra ti somente" (Sl 51.4). A pessoa com quem vamos ter que nos haver pessoalmente, no dia do juízo final, será Deus. E foi o próprio Deus, em pessoa, quem perdoou nossos pecados. Então, coloque-se nas mãos do Deus vivo hoje mesmo. Ele é amor, e está perto de nós. Está esperando para dar-lhe essa bênção. O coração de Deus está ansioso para abençoá-lo. O coração de Deus anseia por você. E diz: "Meu filho, você acha que está desejando esse descanso. Na verdade, sou eu quem está desejando ter você comigo, pois quero descansar em seu coração, habitar nele, fazer dele o meu templo".
Você precisa de Deus, é fato. Mas Deus precisa de você também, para gozar toda a satisfação que pode ter seu coração paterno. Então decida-se hoje e diga: "Entrego-me agora a Cristo. Já tomei a decisão, e afirmo de livre e espontânea vontade: Senhor Deus, quero comprar a pérola de grande preço. Renuncio a tudo por ela. Em nome de Jesus, aceito essa vida de perfeito descanso".
E aqui o último ponto. Depois de apropriar-se da bênção, diga o seguinte: "Agora confio em que Deus realizará tudo isso na prática. Viva eu mais um ano ou outros trinta, hoje tornou-se novamente real para mim essa grande verdade: “Deus é Jeová, o grande Eu Sou de eterno futuro, o eterno Deus único. E daqui a trinta anos tudo será para ele como se fosse agora”. E creio que esse Deus se dá a mim também, não porque haja em mim algum poder, mas em virtude da capacidade de seu imensurável amor de preservar consigo".
Confie em Deus agora também com relação ao seu futuro. Olhe para ele mais uma vez, por intermédio de Jesus. Quantas vezes já reafirmamos ou ouvimos alguém repetir essa maravilhosa verdade: "Deus nos deu seu Filho". Por que não reafirmar agora a conclusão do pensamento bíblico: "Como não nos dará com ele todas as coisas, em todos os momentos, todos os dias de nossa vida?" Pela fé diga: "Por que Deus não desejaria manter-me sempre na luz de sua presença? Não foi ele mesmo quem criou o sol que brilha tão intensamente? E a luz não está sempre penetrando em todos os lugares? Assim sendo, será que nosso Deus, que é amor, não estaria desejoso de brilhar constantemente, de manhã até a noite, de uma ano a outro, no meu coração?" Deus é amor e está ansioso para se dar a nós.
Até aqui você tem vivido por suas próprias forças. Não quer começar hoje uma vida diferente? Não prefere ter uma existência em que Deus seja tudo, confiando nele com relação a todas as coisas? Não prefere poder dizer ao Senhor: "Ó Deus, peço-te essa vida; espero tê-la; creio que me darás essa bênção. Hoje decido entrar nesse descanso – deixar que cuides de mim daqui por diante, o tempo todo. Entro hoje no descanso de Deus". Tenha ânimo; não tema nada; pode confiar em Deus. Ele o introduzirá nesse descanso.
Vejamos mais uma vez a palavra que Deus nos envia através de seu profeta: "Acautela-te e aquieta-te; não temas, nem se desanime o teu coração". Josué conduziu o povo na sua entrada na terra de Canaã; ou melhor, Deus o fez por intermédio dele. E Jesus, aquele que os purificou com seu sangue e que aprendemos a conhecer como nosso precioso Salvador é o nosso Josué. Confie nele hoje mais uma vez e diga-lhe: "Ó meu Josué, toma minha vida; introduz-me na terra, e confiarei em ti, e no Pai". E pode estar certo de que ele o fará. Ele o aceitará e realizará essa obra na sua vida.
ANDREW MURRAY
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