Oração- Convite à vida Espiritual

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009


"Solitude e Comunhão"


A vida espiritual é um dom. É o dom do Espírito santo que nos eleva ao Reino do amor de Deus. Mas, dizer que ser elevado ao Reino do amor é um dom divino não significa que esperamos passivamente até que ele nos seja oferecido, Jesus nos manda firmar nossos corações no Reino. Firmar nossos corações em algo significa envolver não somente sério desejo, mas também forte determinação. A vida espiritual requer esforço humano. As forças que continuam nos puxando para traz, a uma vida cheia de preocupações, estão longe de serem facilmente sobrepujadas. “como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus”!(marcos 10.23), exclama Jesus. E para nos convencer da necessidade de trabalhar duro, diz: ´´se alguém quizer acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me`` (Mateus16.24).

Aqui tocamos a questão a disciplina na vida espiritual. Uma vida espiritual sem disciplina é impossível. Disciplina é o outro lado do discipulado. A prática de uma disciplina espiritual nos torna mais sensíveis à suave e gentil voz de Deus.

O profeta Elias não encontrou Deus em uma poderosa ventania, num terremoto ou fogo, mas numa brisa suave ( veja 1 reis 19. 9-13). Pela prática de uma disciplina espiritual nos tornamos atentos àquela voz suave e desejamos responder quando a ouvimos.

De tudo o que eu disse sobre nossas preocupadas e sobrecarregadas vidas, fica claro que estamos frequentemente envolvidos por muito ruído interior e exterior, o que torna difícil de verdadeiramente ouvirmos o nosso Deus quando Ele nos fala.

Muitas vezes nos tornamos surdos, incapazes de saber quando Deus nos chama e de entender em qual direção Ele nos chama. Assim, nossas vidas tem se tornado absurdas. Na palavra absurdo encontramos a palavra latina surdus, que significa “surdo”. Uma vida espiritual requer disciplina porque precisamos aprender a ouvir a Deus , que fala constantemente, mas a quem raramente ouvimos. Quando, porém, aprendemos a ouvir, nossas vidas se tornam obedientes. A palavra obediente vem da palavra latina audire, que significa ouvir. A disciplina espiritual é necessária para que seja possível mudar, lentamente, de um absurdo para uma vida obediente; de uma vida sobrecarregada de preocupações barulhentas a uma vida na qual possamos ouvir nosso Deus e seguir suas orientações. A vida de Jesus foi uma vida de obediência. Ele estava ouvindo o pai, sempre atento à sua voz, sempre alerta às suas determinações. Jesus era “todo ouvidos”. Isto é orar de verdade: ser todo ouvidos para Deus. O centro de toda oração, certamente, é ouvir, permanecendo obedientemente na presença de Deus.

A disciplina espiritual, portanto, é o esforço concentrado para criarmos algum espaço interior e exterior em nossas vidas, onde essa obediência possa ser praticada. Por meio da disciplina espiritual evitamos que o mundo encha nossas vidas ao ponto de não restar mais espaço para ouvir. A disciplina espiritual nos libera para orar ou, melhor dizendo, permite ao Espírito de Deus orar em nós.

Apresentarei agora duas disciplinas através das quais podemos “firmar nossos corações no Reino”.

Elas podem ser consideradas disciplinas de oração.

São as disciplinas da solitude e da comunhão.

SOLITUDE

Sem solitude é virtualmente impossível viver uma vida espiritual. A solitude começa com um tempo e lugar para Deus, e para Ele somente. Se realmente cremos não apenas que Deus existe, mas também que Ele está ativamente presente em nossas vidas- curando, ensinando e dirigindo- precisamos separar tempo e espaço para lhe dar nossa atenção exclusiva. Jesus diz: “... vá para o seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto...” (Mateus 6.6).

Trazer alguma solitude a nossas vidas é uma das disciplinas mais necessárias, mas também, das mais difíceis. Ainda que possamos ter um profundo anseio por real silêncio e isolamento, também experimentamos certa apreensão, à medida que nos aproximamos daquele lugar e momento solitários. Tão logo ficamos sós, sem pessoas com quem conversar, livros para ler, TV para assistir, ou chamadas telefônicas a dar, um caos interior se instala em nós. Esse caos pode ser tão pertubador e confuso que mal podemos esperar para nos ocuparmos outra vez. Entrar em um pequeno quarto privativo e fechar a porta, portanto, não significa que nós imediatamente, bloqueamos todas as nossas dúvidas interiores, ansiedades e medos, lembranças amargas, conflitos não resolvidos, sentimentos de raiva e desejos impulsivos. Pelo contrário, quando removemos nossas distrações exteriores, frequentemente descobrimos que nossas distrações interiores se manifestam com toda força. Geralmente usamos as distrações exteriores como um escudo para nos proteger de nossos barulhos interiores. Assim não é de surpreender que não gostamos de ficar sozinhos. O confronto com nossos conflitos interiores pode ser doloroso demais para suportarmos.

COMUNHÃO

A disciplina da solitude não está só. Ela está intimamente ligada à disciplina da comunhão. Comunhão, como disciplina, é o esforço para criar um espaço livre e vazio entre duas pessoas onde juntos, possamos praticar a verdadeira obediência. Através da disciplina da comunhão nos impedimos de nos agarrarmos uns aos outros por medo e solidão e liberamos espaço à libertadora voz de Deus.

Pode soar estranho falar de comunhão como disciplina, mas, sem disciplina, comunhão se torna uma palavra “suave”, que mais se refere a segurança, lugar doméstico e lugar exclusivo que ao espaço onde vida nova pode ser recebida e trazida à sua plenitude. Onde quer que a verdadeira comunhão se apresente, disciplina é crucial não somente nas muitas, velhas e novas, formas de vida comum, mas, também, em sustentar relacionamentos de amizade, casamento e família. Criar espaço para Deus em nosso meio requer o constante reconhecimento do Espírito Santo no outro. Quando reconhecemos o Espírito de Deus doador da vida no centro de nossa solitude e com isto nos tornamos capazes de firmar nossa verdadeira identidade, também podemos ver o mesmo Espírito doador da vida nos falando através de nossos semelhantes. E quando chegamos a reconhecê-lo como a fonte de nossas vidas em comunhão, mais prontamente também ouviremos Sua voz em nosso recolhimento.

Henri Nouwen

EXTRAÍDO DO LIVRO - TUDO SE FEZ NOVO – ( UM CONVITE Á VIDA ESPIRITUAL) HENRI NOUWEN
Fonte: Site Celebrando Deus

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