sábado, 17 de janeiro de 2009
"Os ministros da Palavra não são estrelas
cintilantes, mas sim servos da igreja"
Texto: Efésios 4:7-16
Nesta passagem de Efésios 4 encontramos três temas principais: Os dons, os ministérios e as operações. Os dons aparecem no começo e são outorgados pelo Senhor à Igreja para constituir ministérios. Sem os dons não existem ministérios. Os ministérios são detalhados no versículo 11 – são cinco, embora alguns dizem que são somente quatro, porque os pastores e mestres formariam um só ministério. Finalmente, nos versículos 15 e 16 aparecem as operações, isto é, o funcionamento de cada membro do corpo.
Nos últimos tempos, no cristianismo, os dons e os ministérios têm sido fortemente enfatizados. Pouco é tratado sobre as operações. Mas cremos que a ênfase final de Deus antes da vinda de Cristo não estará nos dons nem nos ministérios, mas nas operações.
No começo do século XX em todo o mundo foi dada uma grande ênfase aos dons. Os dons do Espírito Santo foram manifestados em todo o mundo. Foi um grande avivamento pentecostal. Mas essa não era a meta de Deus. Nas últimas décadas tem ocorrido uma ênfase nos ministérios. No entanto, por muitos anos parece que havia somente um desses ministérios, os evangelistas e os pastores.
Um problema semântico
No versículo 12 trata da função destes quatro ministérios, que são segundo algumas versões bíblicas, “o aperfeiçoamento dos santos”. Por muitos anos não tivemos uma correta compreensão da palavra “aperfeiçoar”. Pensávamos que o objetivo dos ministérios era levar a perfeição, na culminação da vida cristã, aos santos. Mas neste último tempo temos tido melhor compreensão. A palavra grega que é traduzida como “aperfeiçoar” aqui, tem uma variada forma de significados. E, aparentemente, o mais importante deles, não é precisamente “aperfeiçoar”, mas, “equipar” ou “capacitar”.
William Barclay diz que a palavra grega katartismós (que traduzido é: aperfeiçoamento) tem dois grandes significados: o primeiro é ajustar e por em ordem, o segundo é equipar ou habilitar algo para um propósito determinado. E coloca o seguinte exemplo: é usado em relação a habilitação de um navio ou de um exercito, quando são totalmente equipados, armados e formados em posição de batalha. Assim, podemos ver que o ministério dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres é posicionar o exército, o qual é a igreja, em posição de batalha.
Assim, se entendemos “equipar” em vez de “aperfeiçoar” aqui em Efésios 4:12, o assunto muda radicalmente. Portanto a função dos ministérios não é final, mas sim, medial e transitória. A tarefa dos ministros não chega até a edificação da igreja.
Anteriormente dávamos grande ênfase à função dos ministérios, que pensávamos que era “aperfeiçoar os santos”. Mas a ênfase do Espírito Santo esta mais abaixo no texto aqui citado. O raciocínio do Espírito não termina no versículo 12, onde se encontra o serviço dos ministros, mas no versículo 16, onde está o serviço de todos os membros do corpo.
No versículo 13 diz:
“até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo”
Aqui está o objetivo de Deus. Agora, como alcançaremos este objetivo? Isso esta nos versículos 15 e 16:
“antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, isto é, Cristo, do qual o corpo bem ajustado, e ligado entre si por todas as conjunturas, que se ajudam mutuamente, segundo a atividade (a palavra atividade aqui também pode ser traduzida por operação) própria de cada membro, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor.”
Os ministros foram dados para capacitar os santos, não para que realizem o trabalho dos santos.
Vejamos atentamente o versículo 12:
“tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”.
Existe uma vírgula após a palavra “santos” neste versículo? Se houvesse em alguma outra versão, essa vírgula não estaria correta. Por que? Se colocarmos a vírgula depois de “santos”, então entendemos que os ministros aperfeiçoam os santos e realizam a obra do ministério. Mas, se esta vírgula não está ali, então devemos entender que os santos são aperfeiçoados para que estes façam a obra do ministério.
O que vocês crêem que aconteceria numa igreja se ao invés de dois ou três exista cem ou duzentos que fazem a obra de Deus? Sem dúvida, haveria uma mudança muito grande. Para alguns isto pode parecer estranho, porque temos uma grande distorção disto.
Mas devemos ir um pouco mais adiante. Se estes ministérios foram dados para capacitar os santos, significa então, que de alguma forma, os apóstolos têm que reproduzir apóstolos na igreja, e os profetas têm que reproduzir profetas. Dito de outra forma, os apóstolos capacitam os santos, para que destes surjam novos apóstolos; os profetas capacitam os santos para surgirem novos profetas; e os evangelistas capacitam os santos para que surjam muitos evangelistas. Qual é, então, a função dos evangelistas? Evangelizar os perdidos? Não só isso, mas capacitar os santos para que todos sejam evangelistas. A ênfase muda dos ministros para os santos.
Como dizer que os evangelistas são dados para capacitar a igreja e não para evangelizar os incrédulos? Quando necessitamos evangelizar convidamos um evangelista. Mas, a vontade de Deus é que toda a igreja evangelize, e que o evangelista capacite a igreja para isto.
Segundo entendemos, a primeira vez que isto começou a ser pregado, foi pelo irmão Watchman Nee, na China, numa conferência no final dos anos 40. Se você ler essas mensagens perceberá uma carga de Deus muito grande sobre este homem, uma carga muito grande. Ele volta uma e outra vez a reiterar o mesmo, porque percebe que pode ser que diga pela última vez. Ele já sabia que lhe restava pouco tempo. Então dizia: “Temos que passar a carga a todos os santos. Temos que capacitar os santos e que os santos se levantem para servir”. Ele dizia: “Como vamos alcançar toda a China com o evangelho? Somos tão poucos, e este pais é tão grande. Só pode ser feito se todos os santos se levantarem para servir”.
O que acontece hoje na China? Acontece exatamente isto, o cumprimento do desejo de Nee. Sua palavra foi profética. Provavelmente seja na China onde hoje existem as igrejas mais neotestementárias de toda a terra. O que acontece ali? Os pregadores itinerantes visitam as igrejas, capacitam os santos, e logo os santos fazem a obra do ministério. Por causa das perseguições, ali não há um ministério pastoral visível como no Ocidente. São todos os santos, sem distinção, os que realizam a obra do ministério.
Como pode sobreviver a igreja debaixo da perseguição? Só desta forma. Hoje as igrejas na China estão mais vivas do que nunca. A porcentagem de cristãos na China tem crescido de forma geométrica. Isto tem sido maravilhoso.
Agora, por que está vindo esta palavra a nós neste tempo? Embora tenha sido pregada nos anos 40 na China, hoje sentimos que o Senhor a tem enviado até nós para que a realizemos nas nossas igrejas, porque dias de perseguição estão aproximando-se em todo o mundo. Como a igreja sobreviverá nessas condições? Só se a igreja recuperar a visão do corpo. E não somente a visão, mas também a experiência de viver a vida do corpo com tudo o que isto significa.
Uma distorção histórica
Historicamente, todo o peso da obra de Deus tem recaído sobre os ministérios. Na atualidade, há pastores estressados pelo peso da obra. Como um só homem pode fazer tudo? Isto não é a perfeita vontade de Deus. Isto faz parte de uma distorção histórica. Mas o Senhor tem nos mostrado o que verdadeiramente é a igreja, o corpo de Cristo.
Esta distorção levou pouco a pouco a uma exaltação dos ministros. Visto que os ministros têm a palavra, então os irmãos reconhecem que eles são uma classe especial de pessoas, e dependem deles para quase tudo. Isto trouxe muitos problemas. O principal destes é a desvalorização do corpo.
Nestes dias tem-se falado aqui de como uma congregação pode chegar a se parecer com o pastor. Tal como é o pastor, assim é a congregação. Por que isto acontece? Porque ele está só. Ele é a única referência que os irmãos têm. Assim a igreja se assemelha com o homem que está na frente. Mas, qual é a vontade de Deus? Que a igreja seja semelhante a Cristo e não a um homem. Se existe um só homem acima, todos olham para ele e termina por assemelhar-se a ele. Mas, se estão os apóstolos, estão os profetas, os evangelistas, os pastores e os mestres, todos mostrando um aspecto diferente de Cristo, não se assemelharão a nenhum, mas a Cristo que se expressa através deles. Eles, num conjunto, mostrarão a multiformidade de Cristo, toda a riqueza de Cristo!
Um duplo testemunho
Aqui em Efésios 4 a ordem é dons, ministérios e operações. Em alguma outra parte da Bíblia são mencionadas estas três coisas juntas? Os estudiosos da Bíblia dizem que se só encontramos num só lugar da Bíblia uma certa verdade, isto não é muito confiável. Temos que ter ao menos dois, porque é dois o número do testemunho.
Vejamos, então, 1Co 12:4-6:
“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”
Aqui temos de novo, na mesma ordem, os dons, os ministérios e as operações.
Existe uma coisa muito interessante aqui. Os dons são associados com o Espírito; os ministérios com o Senhor, e as operações com Deus Pai. Portanto, vemos uma graduação. Segundo a ordem da deidade, o Pai é maior, logo o Filho e depois o Espírito. Aqui a ordem é inversa. O que significa isto? Que vamos do menos importante ao mais importante.
Destas três coisas, o menos importante são os dons; logo vêm os ministérios; mas o mais importante de tudo são as operações, porque são associadas ao Pai, o qual “opera todas as coisas em todos”. Vocês sabem, os dons da Palavra não vem sobre todos. Neste texto diz que uns recebem uma classe de dons, outros, outra, mas nem todos têm o dom da palavra. Por isto os ministérios tampouco pertencem a todos o santos. Mas quando fala das operações, diz “que opera todas as coisas em todos”. Isto quer dizer, as operações são de todos. De todo o corpo.
O Senhor tem nos mostrado que os dons não são um fim em si mesmo; e que os ministérios também não são. O fim, o objetivo é a igreja em sua multiface variedade de operações.
No Novo Testamento aparecem dezenas de vezes a expressão: “uns aos outros”, e isto nos fala da mutualidade. Quando recebemos a revelação para ver o que é o corpo de Cristo, nossa visão do Novo Testamento muda completamente. Onde antes víamos o indivíduo, agora vemos a igreja. Só na igreja pode ser vivida toda a vida de Cristo. Tão somente na igreja pode ser experimentada toda a revelação do Novo Testamento.
Como crente não estou sendo chamado para fazer tudo. Não sou chamado a ter todas as respostas. Não tenho necessidade de projetar toda a luz. Para isso existe a igreja. Existe um problema na igreja? Vejamos a quem Deus capacitou para resolver esse problema. Quem vai atuar num determinado assunto? Ali está o irmão adequado. Deus o capacitou para isso. Não existe ninguém que tenha todos os dons em si mesmo, porque Deus repartiu seus dons entre todos os membros do corpo.
Reconhecendo nosso tempo
Amados servos de Deus, este é o dia das operações de todos os membros do corpo de Cristo. E nós, os ministros somos servos da igreja. Logicamente que primeiro de Cristo, logo depois da igreja. Por isto os anciãos, os obreiros, os ministros da palavra têm que descer e a igreja têm que subir.
Por que existem tantos filhos de Deus frustrados, insatisfeitos, amargurados? Porque não estão servindo ao Senhor. Parece que eles não têm nada para fazer. Toda ênfase tem sido colocada nos ministros, nos pastores. Eles fazem tudo. E os pequenos são meros coadjuvantes? Não; são mais do que isso, muito mais do que isso! É a igreja, a amada do Senhor.
Quando o amado diz para a Sulamita: “faze-me ouvir a tua voz; porque a tua voz é doce” (Ct 2:14), é o Senhor falando para a igreja. À igreja, não aos pregadores. É doce a voz da igreja. O Senhor deu-se por ela, deu sua vida por ela. Não por grandes pregadores somente, mas por ela. Ali se incluem todos, inclusive os mais pequeninos. Oh, que o Senhor abra nossos olhos para enxergar o que a igreja representa para Ele!
A responsabilidade dos ministros
A maior responsabilidade recai sobre nós. Por que? Porque nós, os ministros, temos que descer para que a igreja cresça. João Batista foi enviado para baixar os montes e subir os vales. O ministério de João Batista não somente foi para preparar a primeira vinda do Senhor, mas também a segunda. Hoje também Deus está levantando profetas com o espírito de João, que diz: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”. Se não fazemos parte dessa equipe, não estaremos preparando devidamente a vinda do Senhor.
O João Batista da primeira vinda do Senhor foi um homem; hoje o “João Batista” da segunda vinda do Senhor são muitos homens, muitos profetas com a mesma atitude de João que dizem: “Olhem para Ele, eis o Cordeiro de Deus; Ele é o esposo, nós somos amigos do esposo, a noiva o vê, a igreja olha para Ele”.
Um dos grandes objetivos de Paulo no seu ministério foi apresentar a igreja como uma virgem pura a Cristo (2Co 11:2). Quem faz esse trabalho de preparar uma noiva para o noivo? Um casamenteiro. Os ministros de Jesus Cristo são casamenteiros. Paulo era. De certo modo, nos somos parte da igreja. Sim, somos, mas em certos aspectos não somos. Somos os que preparamos a noiva para ela receber o Noivo.
Amados irmãos, os principais e maiores problemas no meio da igreja não são criados pelos irmãos, mas pelos ministros, os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Eles são os mais capacitados, tem dons. A palavra deles tem forte influência. É muito difícil dessa forma que um homem diminua.
Deus deseja nos ensinar algo: Os ministros da Palavra não são líderes no restrito sentido da palavra. A palavra líder é uma palavra de origem inglesa que se refere a uma pessoa destacada, proeminente. Um líder é um chefe. O Senhor nunca usou uma palavra que significasse isso para se referir a seus seguidores. Ele usou a palavra “servo”. No grego “doulos” significa escravo.
Derek Prince disse certa vez: “Por que nas Bíblias não se traduz ‘escravo’ se no grego diz ‘escravo’? Porque existe uma cultura obscura, tenebrosa sobre escravidão. Mas em termos bíblicos a escravidão não tem essa conotação”. E acrescenta: “O Espírito Santo é um escravo de Cristo”. Em que sentido? É que ele veio para servir, para exaltar a Outro. O Espírito Santo veio para exaltar a Cristo. O Espírito Santo tem uma atitude de escravo. Assim, nós também somos escravos de Cristo e da igreja.
Que o Senhor nos socorra. Porque um dos grandes perigos que existe para um ministro de Jesus Cristo, é a vaidade. Por este motivo o Senhor tem que nos tocar fortemente. Tem que nos quebrantar totalmente, para que vejamos que não somos nada, absolutamente nada sem Ele. Se recebermos o amor dos irmãos é tão somente porque somos como um jumentinho que leva o Senhor sobre seus ombros. Só por isso.
O que os irmãos têm visto em nós? Por que nos amam? Porque eles têm visto algo de Cristo. Seu amor para conosco não é para nós, é para Cristo, que pela sua graça nos utiliza. Fora de Cristo somos desprezíveis, somos torpes, somos imundos. Somos comuns como qualquer outra pessoa.
Amados irmãos, que o Senhor nos ajude a ver o que o Senhor está nos mostrando, para nos dar força e coragem para minguar, isto é o mais difícil. Que o Senhor nos dê a força para calar e para que outros falem; para deixar de fazer tantas coisas e deixar que outros também sirvam. Amém.
Sínteses de uma mensagem compartilhada a obreiros e colaboradores em Curitiba, Brasil, em abril de 2006.
Revista Aguas Vivas
Ano 7 • Nº 41
Setembro - Outubro 2006
Ano 7 • Nº 41
Eliseo Apablaza
Site Celebrando Deus
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