sábado, 17 de janeiro de 2009
...a "Carruagem Divina" que nos leva ao Noivo Amado
Gênesis vinte e quatro é um capítulo da Escritura de grande beleza e significado, seja ele considerado do ponto de vista histórico, tipológico ou alegórico. Em nossa meditação dessa maravilhosa porção da Palavra de Deus, vamos abordar o aspecto alegórico. Para o dr. Patrick Fairbairn “a alegoria corresponde rigorosamente ao que se encontra na origem da palavra. É o ensinamento de uma coisa por outra, da segunda pela primeira; deve existir uma semelhança de propriedades, uma seqüência de acontecimentos, semelhantes de um lado e de outro; mas a primeira não toma o lugar da segunda; as duas se mantêm inconfundíveis.” Outro erudito da Bíblia, o dr. Graham Seroggie, entende que a alegoria “é uma declaração de fatos supostos que aceita interpretação literal, mas ainda assim exige ou admite, com razão, interpretação moral ou figurada.” A definição dada pela Enciclopédia Delta Larousse é a seguinte: alegoria é “a expressão de uma idéia através de uma imagem, um quadro, um ser vivo.” O dr. Fairbairn oferece estes exemplos de alegorias na Bíblia: a vinha (Is 5.1-7), o quadro da velhice em Eclesiastes (12.2-6), Apocalipse, o Cântico dos Cânticos, o Salmo 45, Gálatas 4.22,23. Nosso desejo é estudar o capítulo vinte e quatro de Gênesis como uma alegoria. A história nele descrita é historicamente verdadeira, mas cremos haver nela lições espirituais importantes para a nossa caminhada com Senhor. Não se trata de criar nenhuma nova doutrina; desejamos apenas vestir as que já foram expostas no Novo testamento, com as roupagens da história de Gênesis 24.
Para os que desejarem um maior conhecimento da diferença entre parábola, símile, metáfora e alegoria, outros livros encontrados na língua portuguesa poderão ser de grande ajuda. Não é o nosso propósito discutir essas diferenças aqui. As palavras acima visam apenas esclarecer aquele que não estejam familiarizados com essa forma de apresentação da verdade bíblica.
Tendo dito estas palavras introdutórias, podemos iniciar nossa meditação nesse capítulo fascinante do Livro de Gênesis. Possa o Senhor ser gracioso para conosco e nos conduzir pela Coluna de Nuvem e pela Coluna de Fogo do Espírito Santo e da Palavra.
“...que o Pai da glória, vos dê espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dEle” – Efésios 1.17
Identificando os personagens
Lendo com atenção descobrimos várias pessoas que tomam parte nesta história: Abraão, Isaque, Eliezer, Rebecca e seus parentes. Abraão toma medidas para que Eliezer, seu servo, vá até sua parentela e traga de lá, se possível, uma noiva para o seu filho Isaque. Eliezer jura que cumprirá a vontade do seu senhor e parte levando dez camelos de sua propriedade.
Ao chegar à terra onde fora enviado, faz ajoelhar os camelos e ora suplicando a direção de Deus. Surge Rebeca, da parentela de Abraão, e Eliezer lhe pede de beber. A donzela prontamente se oferece para dar de beber a ele e aos seus dez camelos. O serve de Abraão procura saber quem é a donzela, e descobre que se trata de alguém da parentela de Abraão. Imediatamente ele se ajoelha e louva a Deus o Senhor do seu senhor Abraão, por lhe ter guiado os passos ao lugar certo. Rebeca corre a anunciar aos da casa de sua mãe o encontro com Eliezer. Labão, irmão de Rebeca, ao ver o pendente e as pulseiras nas mãos de sua irmã, correu a procura do tal varão.
Depois de explicar o motivo de sua viagem, o servo de Abraão aceita comer e beber com os familiares de Rebeca. Na madrugada seguinte se prepara para o retorno. Os familiares querem que Rebeca fique uns dez dias. Eliezer deseja voltar depressa ao seu senhor. Então os parentes perguntam a Rebeca: “Irás tu com este homem?” Ao que ela prontamente respondeu: “Irei (Gn 24.58). Eliezer, Rebeca e suas moças montam nos camelos e partem de volta a Abraão. Quando se aproxima da terra, Isaque vê os camelos ao longe. Rebeca levanta os olhos, vê Isaque, logo se cobre com o véu e então desce do camelo. O servo Isaque recebe Rebeca côo esposa, a ama e a conduz para a tenda de Sara, sua mãe.
Significado dos Personagens
Se quisermos entender este capítulo, precisamos saber qual é o significado de Abraão, Isaque, Eliezer, Rebeca e seus familiares, e as dádivas de Eliezer a Rebeca e aos seus familiares. Cada personagem representa um aspecto da verdade revelada no Novo Testamento. Nosso propósito, com já dissemos, é usar essa história para ilustrar a verdade já estabelecida no Novo Testamento. Que o Deus de toda a graça nos ajude e nos conduza pelo Seu Espírito Santo, na busca humilde e sincera das riquezas de Cristo contidas nesta maravilhosa porção da Palavra de Deus.
O Calvário, Israel e a Igreja
Os capítulos 22, 23, 24 do livro de Gênesis formam uma espécie de sanduíche, como disse um amado irmão em Cristo. Outros podem ser encontrados na Bíblia. Vários dos grandes estudiosos da Escritura estão de acordo com a seguinte interpretação destes três capítulos:
Gênesis 22: Isaque é oferecido no Monte Moriá, figura de Cristo sendo oferecido no Calvário.
Gênesis 23: Sara, esposa de Abraão morre, figura da nação de Israel que foi posta de lado, temporariamente, por ter rejeitado o Filho de Deus.
Gênesis 24: Eliezer parte em busca de uma noiva para Isaque. Aqui temos o Espírito Santo em Sua tarefa de buscar e preparar a Noiva para Cristo.
A seqüência dos fato está perfeitamente de acordo com o ensino do Novo Testamento: Jesus dá Sua vida na Cruz e é rejeitado pela nação de Israel. A nação é posta de lado e um novo vaso é levantado por Deus: a Igreja dos redimidos. Desde o Dia de Pentecostes o Espírito Santo está adornando a Noiva, para o grande dia das Bodas do Cordeiro (Ap 19.9). A Igreja hoje ainda está sendo santificada pela lavagem da água (o Espirito) por meio da Palavra (Ef 5.25-27).
Abraão, Isaque e Eliezer
Todos os que escrevem sobre este capitulo concordam que Abraão representa o Espírito Santo. Quem dá as ordens é Abraão e suas ordens devem ser obedecidas nos mínimos detalhes. Seu propósito é buscar uma Noiva para Isaque, seu filho, do meio da sua parentela. Quando Deus disse “não é bom que o homem esteja só” Ele não pensava apenas em Adão, mas principalmente em Seu Filho. No final da Bíblia temos as Bodas do Cordeiro. Quem executa essa tarefa de adornar a Noiva é Eliezer, que simboliza o Espírito Santo. A Noiva é encontrada à beira de um poço, outra figura do Espírito e da Palavra (a Pia de Bronze, Ex 38.8). Isaque só aparece no fim da história, quando vê Rebeca chegando montando um camelo. É muitíssimo interessante o registro do que Isaque estava fazendo, quando Eliezer chegou: “Isaque saíra ao campo à tarde, para meditar” (Gn 24.63). Não é exatamente isso que o Noivo amado está fazendo à Direita do Pai, enquanto o Espírito Santo está na terra preparando a Noiva para o encontro final? “Porquanto vive sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). Que maravilha saber que enquanto viajamos por esta terra, nosso amado Noivo intercede por nós e é o nosso Advogado junto ao Pai celestial. Que bendita segurança!
O Cristão, os Parentes e os Amigos
Quando um crente é abençoado, todos os seus parentes e amigos também podem ser envolvidos. Pode ser até imperceptível, mas a manifestação da vida do Senhor é algo abrangente. Muitos recebem dádivas do Alto, sem saber que elas estão sendo concedidas a eles por causa da fidelidade de outros, como aconteceu com Rebeca e seus familiares. Até Labão, seu irmão, que era de caráter muito duvidoso, foi agraciado. Quando uma casa recebe um grupo de irmãos para orar, louvar e adorar o Senhor, aquele lar é abençoado e os vizinhos também. Se um grupo de cristãos começa a se reunir num determinado lugar, ali chegou o vaso de Deus para abençoar as pessoas daquele lugar. Podem ser apenas bênçãos temporais, relacionadas com saúde, proteção e o pão de cada dia, mas em muitos casos a bênção maior da salvação em Cristo também se torna realidade.
Dádivas do Espírito Santo
As duas primeiras coisas que Eliezer deu a Rebeca foram: um pendente de ouro e duas pulseiras (24.22). O pendente simboliza submissão e a pulseira indica o serviço dedicado. Ao falar com os familiares de Rebeca sobre seu encontro com ela, Eliezer disse algo muito interessante com respeito ao pendente: “Pus o pendente no nariz dela e as pulseiras sobre suas mãos” (24.47). Estas jóias são de ouro e nos falam daquilo que tem sua origem em Deus. O ouro representa a natureza de Deus, da qual participam todos os que crêem no Senhor Jesus. O pendente, que parece ser a tradução mais correta, indica que não somos mais donos de nós mesmos. Ele era colocado no nariz, por onde respiramos. A respiração, por sua vez, indica que estamos vivos. Quando o Senhor nos salva, o pendente é colocado em nosso nariz; isso significa que dali em diante Ele vai governar até nossa respiração, isto é, nossa vida. Os braceletes representam a capacidade para o serviço espiritual prestado ao Senhor. Rebeca recebeu ainda “jóias de prata, jóias de ouro e vestidos” (24.53). As jóias os dons do Espírito e os vestidos os atos de justiça do crente ou seu caráter (Ap 19.7-8).
O Personagem Esquecido : O Camelo
Os personagens mencionados no inicio desse estudo, são lembrados por todos os que estudam esse capítulo 24 de Gênesis. Todavia, existe um outro de tremenda importância, e que geralmente não é lembrado: os Camelos. Os dez camelos de Abraão são mencionados cinco vezes neste capítulo, e fazem parte essencial dessa história maravilhosa: (1) São levados por Eliezer (24.10), (2) Eliezer os faz ajoelhar junto ao poço (24.11), (3) Rebeca dá de beber a eles (24.20), (4) Rebeca monta neles (24.61), e (5) Rebeca salta deles (24.64). Os dois primeiros estão relacionados com Eliezer, e os três últimos com Rebeca. Estas cinco referências ao “personagem esquecidos” nos levam às seguintes considerações:
1 – Abraão é o dono dos camelos (Gn 24.10)
2 – Abraão é quem os envia (Gn 24.10)
3 – Eliezer é quem os controla (Gn 24.11)
4 – Rebeca é quem dá de beber a eles (Gn 24.18)
5 – Rebeca é quem deve montar neles (Gn 24.61)
Significado dos Camelos
Os camelos representam a “Carruagem Divina” para levar Rebeca a Isaque. Em sua sabedoria, Deus envia um grande número deles ao nosso encontro. Os Camelos simbolizam o meio de transporte espiritual que o Espírito Santo utiliza, para nos conduzir ao Noivo amado. O homem natural não pode aceitar as dificuldades e problemas como meios de bênção; e o mais triste é que os próprios filhos de Deus têm dificuldades para aceitar esta verdade. O Senhor designou tais experiências para o nosso aprendizado. Enfrentamos muitas vezes situações que nos amedrontam e assustam. Na verdade os Camelos são animais muito feios, mas não podemos esquecer que eles são “bênçãos disfarçadas” que o Pai Celestial põe em nosso caminho, para o nosso crescimento.
Esse aspecto do nosso sofrimento educativo não pode ser mudado pela oração. Quando somos colocados no “cadinho” (lugar onde o ouro é derretido) do Senhor, não adiante orar e suplicar pelo livramento daquela situação. O “Ourives” celestial vai determinar o nível do calor necessário para nos derreter e separar a escória do ouro. Pelo menos uma coisa deve nos confortar: se o calor do fogo é muito alto, isso significa que Deus nos vê como ouro e que somos valiosos para Ele.
Os camelos, símbolo das provas que enfrentamos, fazem parte do processo educativo de Deus para nós. Se desejamos ser paciente ou perseverantes, temos que provar a tribulação (Rm 5.3); se queremos viver piamente em Cristo Jesus, padecemos perseguições (2 Tm 3.12); a entrada no Reino através de muitas tribulações (At 14.22). Quando o Senhor nos faz passar “por várias provações” (Tg 1.2) é preciso que “a perseverança tenha a sua obra completa” (Tg 1.4). Quando provados, devemos perseverar até o fim, porque “depois de aprovado, o homem que suporta a provação, receberá a cora da vida, que o Senhor prometeu aos que O amam” (Tg 1.12). A coroa da vida aqui não é a vida eterna; a coroa é para os reis, para aqueles que vão reinar com Cristo. Ela tem a ver com o galardão e não com a dádiva da vida eterna. Por isso precisamos ser treinados. José sofreu em grande medida, antes de poder se assentar no trono no Egito. “Se sofremos com Ele, com Ele também reinaremos” (2 Tm 2.12). A oitava bem-aventurança fala do grande galardão nos céus, para aqueles que são perseguidos por causa da justiça e injuriados por causa do Senhor (Mt 5.1-12). Todos que desejam ser trabalhados pelo Espírito Santo, a fim de que a imagem do Filho Primogênito seja reproduzida neles, passam por provas duras e difíceis.
Como tratamos os Camelos?
De tempos em tempos o Senhor envia um ou mais dos Seus camelos a nós. Repentinamente eles surgem no nosso quintal, dentro da casa, na escola, no trabalho, na comunhão dos santos e vários outros lugares. A vida está uma maravilha, tudo correndo na direção que julgamos ser a melhor; uma brisa suave traz refrigério e prazer. Quando menos pensamos tudo é revirado de pernas para o ar, as coisas começam a correr na direção oposta e lá se vai nossa paz e alegria! Os Camelos chegaram! Muitas vezes o Senhor envia dez deles de uma só vez. O vento da provação começa a soprar nas quatro direções, formando um grande redemoinho.
Os Camelos são enviados pelo Pai
“Tomou, pois, o servo (Eliezer) dez camelos do seu senhor (Abraão)” Gn 24.10
Quão difícil é reagir corretamente quando surge o redemoinho. Temos todo o conhecimento em nossas mentes sobre a benção da provação e de como encarar tal situação, mas agimos de forma totalmente oposta. Sabemos que os Camelos pertencem ao nosso Pai e são por Ele enviados, mas mesmo assim os rejeitamos. Não podemos aceitar que tais e tais situações podem acontecer. Não as merecemos e elas não vão produzir nada que preste em nossas vidas. Murmuramos e lamentamos e desse modo declaramos que se estivéssemos assentados no trono de Deus, nunca agiríamos como Ele. Em outras palavras, nosso Pai não sabe o que está fazendo. Ao invés de me ajudar na jornada, Ele está impedindo que eu prossiga para o alvo. Não é exatamente isso que fazemos? Não declaramos isso com nossas bocas, mas é isso que está no nosso coração. Quão lamentável é perdermos de vista o coração de amor do nosso Pai celestial. Como o interpretamos mal e criticamos Seus planos para nossas vidas!
Os Camelos são controlados pelo Espírito Santo
“Eliezer fez ajoelhar os camelos fora da cidade”
Gn 24.11
Eliezer representa o Espírito Santo que busca, adorna e conduz a Noiva ao encontro do Noivo, o Senhor Jesus. Logo depois de dizer que os camelos pertencem a Abraão (o Pai), lemos que Eliezer “fez ajoelhar os camelos” (24.11), indicando que eles estavam sob seu controle. Em nossa experiência cristã, isso significa que as dificuldades e provas são ordenadas, medidas e governadas pelo Espírito Santo. As coisas não chegam até nós por acaso. Para um filho de Deus não existe o fator “sorte”. Deus está assentado no Trono e nada escapa ao Seu conhecimento providencial. Como disse um servo do Senhor: “Para um cristão não existe acidente”. Que bom saber que não fomos entregues à sorte cega deste mundo mal. Um pardal não pode cair ao chão e morrer, sem que o Pai tenha conhecimento disso. Ele cuida dos lírios do campo, como não cuidará dos Seus filhos? Quando um fio de cabelo cai da nossa cabeça, Ele sabe qual é o seu número. Ele vê as nossas lágrimas (Is 38. 5b), as guarda no Seu odre e as registra em Seu livro (Sl 56.8). Ele está conosco na travessia do “Vale da sombra da Morte” (Sl 23.4).
Délcio Meireles
Texto retirado do livro "Gênesis 24 Rebeca e os camelos pgns 3-17)
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